terça-feira, 20 de agosto de 2013

Texto de Stanley Keleman e Video editado: Genesis



          No post passado sobre o Workshop Corpapel, disse que havia utilizado um texto e um video que eu editei para sensibilizar os participantes para os conteúdos do curso.
         Disponibilizo para vocês as brilhantes e sábias palavras que Stanley Keleman nos cede em seu livro Anatomia Emocional e o vídeo que novamente editei especialmente para este post. Ambos são meditativos e reflexivos. Sugiro que reservem alguns minutos para sentirem o pulso das palavras e imagens e então perceberem de que forma ressoam em vocês. 
 
"Em todos os níveis a vida é um processo - uma cadeia interligando fatos isolados de vida diferenciados em formas específicas de existência, com um tema subjacente. O universo é um processo, um gigantesco evento organizado de existência, contendo microorganizações.  Cada um de nós é um processo, um todo constituído de eventos vivos com um impulso para a organização. A forma humana como um todo é constituída de eventos vivos, assim como o universo é constituído de subsistemas vivos. O processo de criação é percebido do seu micro ao seu macrodeselvolvimento. A vida é um evento inteiro e não uma série de subsistemas. Todas as formas de vida são interligadas, brotando de uma única matriz comum. A vida de cada pessoa, como organismo no organismo planetário, é uma série de fatos interligados para criar uma forma altamente complexa. Em outras palavras, cada um de nós é uma cadeia de fatos vivos, uma rede organizada, um microambiente que compõe um macroorganismo. Todo organismo é uma bomba pulsátil. O corpo é uma arquitetura celular geneticamente programada, finita, em permanente construção e desconstrução, pulsando segundo afetos, como tubos dentro de tubos, sempre em busca de mais vida, inflando, esvaziando, adensando ou enrijecendo de acordo com o seu grau de tolerância aos ritmos da excitação gerada pelas experiências de amor ou decepção, medo ou agressão, agonia ou prazer."



                        


        
         


domingo, 4 de agosto de 2013

WORKSHOP EM ARTETERAPIA E TERAPIA FORMATIVA: CORPAPEL


          Um dos trabalhos que realizei recentemente foi o CORPAPEL, pois acredito muito no encontro das práticas corporais aliadas à dispositivos artísticos como proposta terapêutica. O trabalho foi ministrado para um grupo de adultos e teve a duração de 4 horas. Conforme vou relatando a cadência do Workshop, irei linkando com relatos de participantes e fotos para ilustrar. Os nomes dos participantes serão informados através das iniciais, para dar-lhes privacidade.
          Inicialmente foi realizada a leitura de um texto e a mostra de um video que editei, visando sensibilizar o grupo para o que estaríamos prestes a vivenciar. Video e texto falavam de embriogênese, de como nós enquanto sujeitos dotados de corpo pulsamos segundo um macroorganismo que tende a se auto-regular e que conecta a tudo e todos. As imagens do video envolviam medusas pulsando no fundo do mar, células se dividindo para dar origem a um bebê (aguentem a curiosidade, ambos serão postados em breve), ilustrando todas as etapas, da concepção até o nascimento. 
Relato de A. sobre o impacto causado pelo vídeo: "O filme editado pela Carol me possibilitou entrar em um processo meditativo profundo. A percepção do pulsar, o pulsar do universo, do micro e do macro e do pulsar do meu próprio corpo. Pude avaliar se o meu pulso estava em harmonia, em conexão com este pulsar da natureza". 
            
Grupo deitado para a leitura do texto


Participantes assistindo ao filme
          
          Sensibilização feita, partimos para a atividade propriamente dita. Fizemos diversas experimentações corporais, representações quase teatrais de situações cotidianas e emoções, envolvendo a percepção que os participantes tinham de como suas formas corporais se modificavam na medida em que as situações mudavam. Puderam perceber que o corpo não se dissocia do que sentem e vivem subjetivamente. Foi pedido também para que escolhessem uma situação específica e trabalhassem nela de forma mais profunda, de modo a intensificar, exagerar a forma corporal de tal situação para terem mais clareza do que ela representava para eles e de que forma poderiam intervir para modificar certos padrões corporais. Relatos:
M: “ foi uma oportunidade de perceber o quanto repito gestos e atenções... retornei (à casa) com a sensação de que não sou apenas imagem refletida do (meu) pai, mas além. Sou uma cópia melhorada de suas atitudes, comportamentos, e afetos. E tenho a dizer que foi muito bom perceber isto”.

Trabalho corporal

S: “A experiência de intensificar uma dessas cenas e perceber claramente o que acontece com o corpo nos dá ferramentas e nos auxilia a encontrar muitas respostas como: onde algo nos afeta, nos causa dor ou mal estar e podemos trabalhar estas questões”.

Trabalho Corporal

          Após este momento, foi introduzida a prática com os diversos tipos de papéis, diferentes cores, tamanhos e texturas. A intenção era que estivessem suficientemente a vontade para expressarem-se através de músicas, interagindo com estes materiais e com o grupo de forma que esta vivência funcionasse como uma extensão do que fora iniciado pela vivência anterior, ou seja, a percepção de como funcionam corporalmente e de que forma gostariam de fluir com seus corpos, poderia ser continuada através da experiência com os papéis. Ambas as vivências foram filmadas. Relatos: 

A.: “Minha atenção se direcionou para um celofane verde... e para um celofane transparente... minha integração com eles foi imediata. Percebi que escolhi a leveza, mas ao mesmo tempo papéis resistentes”.

D.: " Comecei a dançar e me integrei com o papel. Percebi que usei um papel que tinha flexibilidade, maleabilidade, e era assim que eu estava me sentindo, pois na vivência corporal reparei que precisava de mais flexibilidade em meu corpo e os papéis escolhidos serviram para continuar este meu processo..."

Grupo e os papéis


          O passo seguinte foi a preparação para a reflexão sobre o que tinha sido vivenciado até então e para o fechamento do trabalho. Ainda no campo da linguagem não-verbal, foi solicitado que os participantes realizassem Somagramas. Os somagramas são oriundos do Trabalho Formativo, de Stanley Keleman. São desenhos, mapas, cartografias corporais que imprimem no papel a sensação experimentada no corpo após determinada experiência vivida. O desenho descreve a direção das forças, tensões musculares, conexão e desconexão entre partes do corpo. Pode ser executado utilizando-se setas, linhas, tracejados, palavras. É uma ferramenta que capta o momento presente e serve de direcionamento para o terapeuta e é uma ferramenta organizadora e de elaboração do processo vivido. Estes mapas contam histórias, são narrativas que não mentem. Relato:
L.: “No momento da vivência corporal eu estava percebendo fortemente meus órgãos internos, principalmente os intestinos, a ponto de caminhar pela sala com as mãos na região da barriga. Curiosamente, quando fui realizar meu Somagrama, o que mais evidenciei no desenho foi o intestino e o coração [...]”.

Somagrama de L. evidenciando intestinos e coração 

Grupo realizando Somagramas
          Chegamos ao final do trabalho, onde houve espaço para conversarmos e retratarmos tudo que foi experienciado. Para esta etapa final, os participantes tiveram acesso à imagens em video da vivência corporal e com os papéis. Desta forma, eles puderam formular um feedback do que viveram, de como se viram no video e suas expectativas em relação ao Workshop. A ferramenta de video experimental proporciona ao participante a possibilidade de um confronto com a imagem idealizada e a imagem real, gerando ainda mais riqueza para a integração do vivido nas últimas horas. Relatos sobre o video:

V. : “O recurso da filmadora para o feedback da atividade corporal foi genial e muito importante para o fechamento, pois todos puderam se observar e se avaliar.”

D.: "Me ver no vídeo também trouxe muito prazer, pela primeira vez me olho no vídeo e gosto do meu corpo, do meu andar, da minha altura, foi muito bom, me sinto plena e feliz". 



Fechamento do Workshop: expressão e integração de conteúdos

          Poder realizar este Workshop foi muito importante, pois coloquei nele muito do que acredito para uma proposta terapêutica. A transdisciplinaridade perpassa aqui através das diversas ferramentas utilizadas, que paramentam umas às outras e trazem mais riqueza e potencial ao trabalho. A vivência em grupo possibilita a construção de um ambiente confiável e protegido que permite que o trabalho flua. Muitas vezes diferenças e similaridades são expostas de forma que cada um encontre sua maneira de trabalhá-las e tire o melhor proveito possível das situações que se apresentam. Por fim, acredito muito que um trunfo dos trabalhos corporais é a possibilidade de torná-los coadjuvantes de outras técnicas e abordagens clínicas num sentido de sempre ter o corpo como um referencial e passível de afetação através do contato terapêutico.

Se você tem vontade de levar este Workshop ao seu Espaço/ Cidade ou tem vontade de formar um grupo para realizá-lo entre em contato no natunorio@gmail.com